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Saúde

Surto de dengue em Lajeado: estudo revela aumento expressivo de casos e baixa mortalidade entre 2021 e 2023

Por Lucas George Wendt

Postado em 28/05/2025 12:17:40


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Nos últimos três anos, o município de Lajeado, no Rio Grande do Sul, enfrentou um surto de dengue, com um pico de casos em 2022. Um estudo recente publicado no Brazilian Journal of Implantology and Health Sciences analisou dados epidemiológicos da doença entre 2021 e 2023, revelando detalhes sobre a incidência, sintomas, sorotipos circulantes e desfechos clínicos. 

A pesquisa, conduzida por acadêmicos de Medicina e uma professora bióloga e biomédica da Universidade do Vale do Taquari - Univates, destacou que, apesar do aumento expressivo no número de infecções, a maioria dos casos foi branda, com baixa taxa de mortalidade. Assinam o estudo Giovana Guazelli, Luize Paz Bortolon, Júlia Portz Dorneles, Louise Lampert Dias e a professora doutora Adriane Pozzobon. 

O estudo retrospectivo e transversal analisou 5.679 fichas de notificação do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), fornecidas pelas Vigilâncias Epidemiológica e Ambiental de Lajeado. Desse total, 4.322 casos foram confirmados como dengue, tendo 2022 concentrado 92,5% das infecções (3.998 casos), enquanto 2021 e 2023 registraram apenas 32 e 292 casos, respectivamente. Os pesquisadores atribuíram o pico em 2022 a fatores climáticos e à circulação intensa do sorotipo DENV-1, predominante em 100% dos casos analisados.  

Perfil dos pacientes e sintomas mais comuns  

A dengue afetou principalmente mulheres (55,1% dos casos), possivelmente devido à maior exposição ao mosquito Aedes aegypti no ambiente doméstico. A faixa etária média dos infectados foi de 40 a 46 anos, com a maioria apresentando sintomas clássicos da forma leve da doença: mialgia (85,8%), febre (84%), cefaleia (81,5%) e náuseas (54%). Apenas seis casos evoluíram para dengue com sinais de alarme, e dois foram classificados como dengue grave.  

Entre os sinais de alarme observados estavam dor abdominal intensa, sangramento de mucosas, letargia e hipotensão postural. Já os casos graves apresentaram choque hipovolêmico, extremidades frias e alterações de consciência. Apesar da gravidade potencial da doença, a taxa de mortalidade foi baixa: seis óbitos registrados no período, sendo cinco deles em 2022.  

Fatores de risco e comorbidades  

O estudo também analisou a presença de comorbidades nos pacientes. Hipertensão arterial sistêmica (17,9%) e diabetes mellitus (5,9%) foram as condições preexistentes mais frequentes, ambas associadas a maior risco de complicações. A pesquisa reforça que indivíduos com diabetes têm quatro vezes mais chances de desenvolver formas graves da dengue, enquanto hipertensos têm o dobro do risco.  

Chama atenção o baixo registro de gestantes entre os casos (apenas 1%) - um dado positivo, já que a infecção por dengue durante a gravidez pode levar a complicações maternas e fetais. Além disso, a maioria dos pacientes tinha ensino médio completo (25,5%), mas 11,1% das fichas não informavam o nível de escolaridade, o que limita a análise do impacto socioeconômico da doença.  

Diagnóstico e desafios na vigilância epidemiológica  

Apenas 34,7% dos casos foram confirmados por exames laboratoriais, enquanto 65,3% tiveram diagnóstico baseado apenas em critérios clínicos. O teste sorológico (ELISA) foi o mais utilizado, mas em 74,8% das fichas não havia registro de qualquer exame, indicando subnotificação ou falhas no preenchimento dos formulários. A RT-PCR, método mais preciso para detecção precoce do vírus, foi pouco utilizada, provavelmente devido ao alto custo e à logística complexa.  

Os pesquisadores destacaram a importância de melhorar a qualidade dos registros e ampliar o acesso a testes diagnósticos, especialmente em períodos epidêmicos. 

Circulação do sorotipo DENV-1 e riscos futuros  

O sorotipo DENV-1, identificado em todos os casos confirmados, está historicamente associado a manifestações mais leves da dengue. No entanto, os pesquisadores alertam para o risco de surtos futuros com sorotipos mais agressivos, como DENV-3, que podem causar formas graves da doença, especialmente em quem já foi infectado anteriormente.  

O Ministério da Saúde anunciou, em janeiro de 2025, a reemergência do sorotipo 3 da dengue (DENV-3) no Brasil, com os estados de São Paulo, Minas Gerais, Amapá e Paraná registrando maior circulação do vírus. Segundo dados da pasta, em dezembro de 2024, 40,8% dos casos de dengue foram causados pelo DENV-3.

A teoria da "imunização sequencial" (Teoria de Halstead) sugere que reinfecções por sorotipos diferentes aumentam o risco de complicações devido a respostas imunológicas exacerbadas. Por isso, o monitoramento contínuo da circulação viral é essencial para antecipar surtos e orientar campanhas de prevenção.  

Conclusões e recomendações 

O estudo conclui que, embora Lajeado tenha enfrentado um aumento expressivo de casos em 2022, a maioria foi leve, com baixa letalidade. Os sintomas mais frequentes foram consistentes com a forma clássica da dengue, e o sorotipo DENV-1 predominou. No entanto, os pesquisadores enfatizam a necessidade de: reforçar a vigilância epidemiológica, com preenchimento adequado das fichas de notificação e ampliação do uso de testes laboratoriais; intensificar ações preventivas, como eliminação de criadouros do Aedes aegypti e campanhas de conscientização; e monitorar a circulação de sorotipos, para antecipar possíveis mudanças no perfil da doença.  

Glossário

Confira a explicação e a definição de termos e conceitos presentes neste texto 

Sorotipo = refere-se a um grupo de micro-organismos relacionados que compartilham os mesmos antígenos. No caso do vírus da dengue, ao analisar os anticorpos produzidos por pessoas que já foram infectadas, é possível identificar quatro variantes distintas. Por essa razão, o vírus da dengue é classificado em quatro sorotipos: Dengue 1, Dengue 2, Dengue 3 e Dengue 4. 

Choque hipovolêmico = é uma emergência médica que ocorre quando há uma perda significativa de sangue e fluidos corporais. É uma condição perigosa que pode levar à morte.

Teoria de Halstead = é uma teoria epidemiológica que relaciona a febre hemorrágica da dengue (FHD) com infecções sequenciais por diferentes sorotipos do vírus da dengue. A teoria de Halstead considera que a resposta imunológica na segunda infecção é mais intensa, o que resulta em uma forma mais grave da doença. A FHD pode estar relacionada com infecções sequenciais por diferentes sorotipos do vírus da dengue, num período de 3 meses a 5 anos. A segunda infecção por qualquer sorotipo da dengue é, na maioria das vezes, mais grave do que a primeira.

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