Em 6 de junho, alunos do 6º ano da Escola Municipal de Ensino Fundamental Dom Pedro I, de Roca Sales, tiveram a oportunidade de vivenciar uma experiência singular de aprendizado: tornaram-se “arqueólogos por um dia”. A atividade faz parte do projeto de extensão Arqueólogo por um dia: ações de educação patrimonial, desenvolvido pela Universidade do Vale do Taquari – Univates, e levou à escola uma simulação de escavação arqueológica, acompanhada de rodas de conversa e orientação sobre a importância do patrimônio histórico-cultural.
A proposta busca integrar prática e teoria, estimulando a curiosidade científica e a valorização da história local entre os estudantes dos anos finais do Ensino Fundamental e do Ensino Médio. Utilizando ferramentas reais de campo, os alunos participaram de uma escavação simulada em um sítio arqueológico preparado especialmente para a oficina, encontrando fragmentos de cerâmica que permitiram exercitar a observação, o cuidado e a análise, como se fossem pesquisadores.
Educação patrimonial na prática
A atividade foi dividida em dois momentos. Inicialmente, os estudantes participaram de uma conversa orientada pela equipe do projeto, na qual foram apresentados aos conceitos fundamentais da arqueologia, à rotina de trabalho do arqueólogo e à importância da preservação dos bens culturais. Em um segundo momento, a turma foi conduzida à prática: em um espaço montado para a simulação, puderam aplicar os conhecimentos recém-adquiridos escavando o solo em busca de artefatos, exercitando a paciência e a atenção ao detalhe — habilidades essenciais para quem atua nessa área do conhecimento.
A interação foi marcada pelo entusiasmo e pelo engajamento dos alunos. A curiosidade despertada pelas explicações e pela atividade prática incentivou perguntas e reflexões sobre a história da região, o papel das comunidades na preservação da memória e as formas pelas quais o passado pode ser redescoberto por meio da ciência.
Uma proposta com história
Desenvolvido desde o início dos anos 2000 pela Univates, o projeto Arqueólogo por um dia se consolidou como uma importante ação de extensão universitária voltada à educação patrimonial no Vale do Taquari e em municípios vizinhos. Ao longo de sua trajetória, tem articulado o saber acadêmico com o cotidiano das escolas, promovendo o intercâmbio de conhecimentos entre universidade e comunidade. A Arqueologia e a História são utilizadas como interfaces para estimular uma “alfabetização do olhar” — ou seja, uma nova forma de perceber e compreender o mundo a partir da memória, da cultura material e do ambiente.
O projeto integra a tríade universitária — ensino, pesquisa e extensão — e se relaciona diretamente com os Programas de Pós-Graduação em Ambiente e Desenvolvimento (PPGAD) e em Ensino (PPGEnsino) da Univates. Suas ações têm gerado desdobramentos em Trabalhos de Conclusão de Curso, dissertações, teses, artigos científicos e apresentações em eventos acadêmicos. O trabalho em campo, além de contribuir para a formação crítica dos estudantes da educação básica, também alimenta a produção de conhecimento na Universidade.
Expansão do projeto e impacto social
A oficina realizada em Roca Sales é uma das etapas da atual fase do projeto, que seguirá com atividades nas escolas municipais Perpétuo Socorro e Sagrada Família. A proposta é ampliar o acesso à educação patrimonial e fortalecer a sensibilização das novas gerações sobre a importância da preservação do passado.
Voltado prioritariamente à comunidade regional, o Arqueólogo por um dia trabalha em articulação com professores das redes públicas e privadas de ensino, que frequentemente integram as oficinas ao planejamento curricular de disciplinas como História, Geografia, Ciências e Ensino Religioso. Essa colaboração fortalece os vínculos entre a Universidade e as escolas e valoriza a construção coletiva do conhecimento.
Como são as oficinas?
As ações do projeto abordam temas transversais, como patrimônio, cultura, ambiente e história regional, e são pedagogicamente organizadas em etapas no formato de oficinas.
A oficina dialogada consiste em apresentar as conexões entre o que é a centralidade do projeto e a matriz curricular trabalhada pelos professores parceiros nas escolas. Também nesta oficina são apresentadas algumas pesquisas realizadas na região do Vale do Taquari pelo Labarq da Univates. Outra abordagem diz respeito à desmistificação do trabalho do arqueólogo e às competências da Arqueologia. Essa oficina é sucedida pelas oficinas práticas a serem efetivadas em outra oportunidade. Nas oficinas os estudantes experienciam o que foi tratado na oficina teórica.
As práticas envolvem a confecção de vasilhas cerâmicas com o uso dos métodos estudados na literatura arqueológica como tendo sido as técnicas das quais lançavam mão os grupos humanos estabelecidos na região em temporalidades que superam em muitos séculos o período da colonização e até concomitantemente a ele. Já durante a segunda etapa da oficina os estudantes realizam a simulação de escavação em um sítio arqueológico organizado pelos bolsistas em local previamente determinado pelo professor parceiro e com a ciência da escola.
Antes de efetivamente simularem a escavação, os estudantes vivenciam as etapas que a precedem, como a observação do ambiente e caminhada pela área. Em seguida, os estudantes demarcam as quadrículas e, por fim, utilizam as técnicas de escavação aprendidas na oficina teórica, a fim de encontrar fragmentos de cerâmica (não arqueológica) previamente enterrados pela equipe do projeto.
A simulação das atividades de laboratório em Arqueologia é realizada mediante a montagem das vasilhas, que são reconstituídas a partir dos fragmentos evidenciados. Essa etapa se dá em sala de aula ou em área adequada para isso perto do sítio arqueológico simulado.